Balão BRASIL
|
|
Perigos da Aerostação
As experimentações dos inventos de Santos-Dumont tinham
essa coisa de característico: até conseguir resolver definitivamente
os problemas a eles ligados o perigo não o abandonava. Ele trabalhava
nas fábricas e nos ares, com motores e gases. Os incidentes de sua
vida de inventor não foram poucos. Cada ascensão era uma imprudência.
Que o digam os tetos, as árvores de Paris e as águas do Mediterrâneo.
A cerca do seu primeiro vôo, com os Srs. Machuron e Lachambre,
ele relata o seguinte:
- "Quando franqueávamos um pequeno maciço de árvores,
um balanço mais forte do que os outros atirou-me para trás
na barquinha. Imobilizado de súbito, o balão estremecia, açoitado
pelas lufadas de vento, na extremidade do seu guide-rope (corda) enrolado
nas franjas de um carvalho. Durante um quarto de hora fomos sacudidos como
um cesto de legumes e só nos libertamos aliviando um pouco de lastro.
O balão deu, então, um pulo terrível e foi como uma
bala furar as nuvens."
- "Estávamos ameaçados de atingir alturas que depois nos podiam
ser perigosas para a descida, dada a pequena provisão de lastro de
que já dispúnhamos. Era tempo de recorrer a meios mais eficazes:
abrir a válvula de manobra para que o gás escapasse".
E foi assim que conseguiu descer de sua primeira viagem.
Desde o início das suas experiências, realizadas ainda com
balões esféricos, o aeronauta brasileiro correu todas as dificuldades
das viagens aéreas em balões. Eis, como ele descreve uma dessas
ascensões, num dia de tempestade:
- "Achava-me só, perdido nas nuvens, entre relâmpagos e ruídos
de trovões, e a noite se fechava em torno de mim".
- "Eu ia, ia, nas trevas. Sabia que avançava a grande velocidade mas
não sentia nenhum movimento. Ouvia e recebia a procela, e era só.
Tinha consciência de um grande perigo, mas este não era tangível.
Uma espécie de alegria selvagem dominava os meus nervos. Como explicar
isto ? Como descrevê-lo ? Lá no alto, na solidão negra,
entre os relâmpagos que a rasgavam, entre o ruído dos raios,
eu me sentia como parte da própria tempestade !".
Essas dificuldades, esses perigos constantes nunca o abateram, entretanto.
Muito ao contrário. Após os seus incidentes, quando lhe indagavam
o que pretendia fazer, logo respondia:
- "Prosseguir, naturalmente."