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O
prêmio era oferecido por Deutsch de la Meurthe, um empresário ligado à
exploração e ao refino do petróleo. Em 1887, ele havia patrocinado o
desenvolvimento de um motor de explosão a gasolina destinado a
veículos.
Em
13 de julho de 1901, Santos-Dumont concorreu ao prêmio com o dirigível nº
5. Nessa tentativa, o aeróstato subiu, mas após contornar a torre o motor
da aeronave parou e o vento a arrastou, fazendo-a ir de encontro às
árvores do parque de Edmond de Rothschild.
Em
8 de agosto, iniciou uma segunda tentativa. Na presença da Comissão
Científica do Aeroclube da França, partiu para a Torre Eiffel, contornou-a
e tomou a direção de volta a Saint-Cloud. O balão perdia hidrogênio. Mesmo
assim, resolveu prosseguir. Com a perda de gás, as cordas de suspensão iam
sendo cortadas pela hélice, obrigando-o a parar o motor. O aparelho caiu e
bateu contra o telhado do Hotel Trocadero, causando uma violenta explosão.
Santos-Dumont ficou suspenso na quilha de seu dirigível, sendo retirado
pelos bombeiros de Paris.
A Conquista do Prêmio
No mesmo 8
de agosto, Santos-Dumont já elaborava planos para a construção do
dirigível n° 6, concluído em dois dias.
Por telegrama enviado ao Aeroclube da Franca, convocava os juízes
para a prova no dia 19 de outubro de 1901. Devido ao mau tempo, apenas
cinco dos 25 membros da comissão compareceram, dentre eles Deutsch de la
Meurthe.
Após o disparo do cronômetro, o n° 6 subiu meio de lado,
ganhando altura gradativamente. Alcançou a Torre Eiffel em plenas
condições de segurança e nove minutos após a partida já a havia contornado
e iniciava a volta. O público aplaudia; aqueles que estavam em suas casas
e escritórios saíram para as ruas; o transito parou. Mas Santos-Dumont
dispunha de apenas 20 minutos para regressar, contra o vento, com ameaça
de pane no motor. O aviador conseguiu superar o problema, manobrou os
lastros e restabeleceu o nivelamento do dirigível. Nesse momento, o
público dava como certa a vitória. A manifestação era grande, chapéus eram
atirados para cima, pessoas subiam em pontos altos para
saudá-lo.
Faltando apenas cinco minutos para completar meia hora,
aproximava-se do Boulard Lannes. Já estava sobre o Bois quando perdeu
altura. Nos últimos minutos, a aeronave cambaleava, já próxima da linha de
chegada, quando cruzou-a a 29 minutos e 30 segundos após a partida. Com
esforço conseguiu nivelá-la a 120 metros de altura e foi descendo até que
seus mecânicos agarrassem a corda-guia, quando os cronômetros marcavam 30
minutos e 29 segundos.
No entanto, a comissão não foi unânime. A prova havia sido
alterada poucos dias antes e exigia que o dirigível fizesse o percurso e
pousasse em 30 minutos. Um dos membros da comissão, o Marquês de Dion,
disse que ele havia perdido o prêmio por ter pousado alguns segundos além
do estipulado.
No
dia seguinte, os jornais traziam relatos de testemunhas e comentários de
quem não se conformava com o resultado. Santos-Dumont permaneceu isolado
em sua casa. As discussões prosseguiram; imprensa e público mostravam-se
cada vez mais inconformados.
No
dia 4 de novembro, a comissão se reuniu no Aeroclube sob a presidência do
príncipe Roland Bonaparte: Santos-Dumont foi declarado vencedor por 14
votos contra nove. O prêmio, a essa altura elevado para 129 mil francos,
somando os juros e acrescentando recompensas, foi destinado a seus
auxiliares e aos pobres de Paris.
O governo brasileiro de Campos Salles enviou-lhe outro prêmio
no mesmo valor, acompanhado de uma medalha de ouro com sua efígie e a
paródia a Camões: "Por céus nunca dantes navegados". Sua popularidade
atingiu o auge, e seu nome era pronunciado no mundo todo; sua imagem
aparecia em cartões-postais e lembranças. Recebeu o primeiro título de
Sócio Honorário do Aeroclube de Londres e cumprimentos de importantes
personalidades como Thomas Edison, Samuel Langley e seus amigos do
Aeroclube da França.
Estação de
Neuilly
Estação de
Neuilly Depois do sucesso alcançado em Paris, Santos-Dumont recebeu vários
convites para visitar países da Europa. A convite do príncipe de Mônaco,
que mandou construir um hangar e um aeródromo para suas evoluções,
permaneceu algum tempo nesse principado, com ampla liberdade para realizar
vôos experimentais e aperfeiçoar seus conhecimentos de dirigibilidade e
propulsão a motor.
Santos-Dumont já havia construído a primeira infra-estrutura
aeroportuária do mundo. Em 1903, voltou-se para a construção de uma
estação de aeronaves. Escolheu um terreno em Neuilly e ali ergueu um novo
e espaçoso hangar.
Nesse mesmo ano, concluiu a construção de um dirigível de corrida,
o n° 7, com o qual fez poucas aparições, reservando-o para provas de
velocidade com outros inventores, que nunca apareceram. Pulou o n° 8 por
superstição, provavelmente por causa de um acidente quase fatal, ocorrido
no dia 8 de agosto de 1901.
Ainda em 1903 construiu o n° 9, o menor e o mais famoso de
seus dirigíveis. Com ele, fez muitos passeios sobre Paris, sendo visto
quase diariamente. Com objetivo de mostrar sua versatilidade e capacidade
de transportar, como qualquer outro veículo, descia em plena avenida do
Bois de Boulogne, na hora do passeio da alta sociedade, ou no Aeroclube da
França, para conversar com amigos. Nesse mesmo ano, preparava o n° 10, o
dirigível-ônibus, com capacidade para transportar cerca de 20
passageiros.
Convencido da segurança do vôo, levou a bordo do n° 9 um menino de
7 anos, a primeira criança a voar num dirigível. Logo após, ocorreu um
fato curioso. Aída Costa, uma jovem cubana freqüentadora da estação de
Neuilly, manifestou vontade de voar. Depois de um tempo de observação e
uma série de lições, voou sozinha, indo da estação a Bagatelle e
retornando ao ponto de partida. Foi a primeira mulher no mundo a conduzir
um dirigível.
Prêmios do
Aeroclube Após a conquista da Taça
Archdeacon, ainda em 1906, Santos-Dumont já se preparava para uma nova
disputa. O Aeroclube da França oferecia um prêmio de 1.5OO francos ao
aviador que, elevando-se do solo por seus próprios meios, realizasse um
percurso mínimo de 1OO metros. Dessa vez, concorreria com os aviadores
Voisin e Blériot, que haviam construído um monoplano em parceria.
No dia da prova, 12 de novembro, Santos-Dumont ofereceu a sua vez a
seus concorrentes, mas o aeroplano de Voisin e Blériot quebrou e não
decolou.
Às
1O horas, Santos-Dumont partiu para a primeira tentativa, sem sucesso. A
ela, sucederam-se outras duas, também malsucedidas. Foi apenas na quarta
tentativa que o aviador, partindo no sentido inverso das anteriores e
contra o vento, alcançou o sucesso almejado. O 14-Bis
ultrapassou os 2OO metros de vôo e Santos-Dumont conquistou o prêmio.
Causando grande impacto nos espectadores, Santos-Dumont voltou a
figurar em revistas e jornais com a mesma projeção dos anos
anteriores.
A história da aviação toma um novo rumo. O vôo de 12 de novembro
motivou os inventores e construtores a conduzir seus estudos para o
mais-pesado-que-o-ar e a trabalhar intensamente nessa direção. Voisin
fabricou com Léon Delagrange um biplano que voou em Bagatelle, em março e
abril de 1907. Nesse período, Blériot também realizava pequenos vôos com
seus modelos. Em 2 de novembro, Farman, em um aeroplano Voisin, superou o
recorde do 14-Bis ao voar 771 metros em 52 segundos.
Santos-Dumont projetava novas estruturas e asas. Porém, os projetos
que se seguiram, do nº 15 ao nº 18, não tiveram resultados práticos. Seus
aperfeiçoamentos conduziram-no a um modelo
menor, mais versátil, que pudesse subir e descer em qualquer parque de
Paris.

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