Quatro horas da tarde: Monsieur Albert apanha do chão um pedaço
de estopa e limpa as mãos sujas de graxa. Por um momento pensou que
chegaria a decepcionar o imenso público que desde a manhã enchia
o campo de Bagatelle, em Paris.
Agora, porém, estava pronto.
Pôde consertar em tempo o seu aparelho, e dá à comissão
julgada do Aerocuble o sinal de que começaria a experiência.
Agarra-se às hastes da asa, e num pulo está dentro da nacele.
As conversas cessam de repente, todos s olhares voltam-se para o pequeno
avião. O silêncio é total.
Nada acontece. Monsieur Albert, piloto e inventor, acena com o braço.
A multidão não entende. Finalmente alguém lhes diz que
é preciso recuar. O piloto precisa de mais espaço, as pessoas
vão-se afastando surpresas.
A hélice começa a girar. O motor solta um estampido e inicia
um ronco irregular. As rodas movem-se na terra lisa, devagar. Mais
depressa. Atenção, vai decolar o primeiro veículo
mais pesado que o ar. O homem, com a força de seu engenho, vai transformar-se
em pássaro.
O 14-Bis desliza pelo solo. O povo todo, quase ao mesmo tempo, solta
uma exclamação de espanto e admiração. As rodas
não tocam mais o chão. O homem está voando. Sobe mais,
quase um metro, antes de ir voltando devagar até regressar ao solo.
Impossível - diz um espectador, não acreditando nos próprios
olhos.
Chapéus atirados ao ar. Todos gritam vivas ao grande inventor.
Na cabina do aparelho, Alberto Santos=Dumont sorri e leva a mão
à testa a fim de retirar uma persistente gotinha de suor.