• Aviação
Demoiselle está sendo
fabricado em Americana
Réplica do avião
estável que Santos=Dumont
inventou está sendo feita para voar na França, no centenário da aviação
em 2006
LUCAS ALVES
lucas.alves@oliberalnet.com.br
AMERICANA
- A sensação de incredulidade pode ser considerada
normal às pessoas que entram pela primeira vez no barracão que pertence
ao piloto José Haas de Azevedo. Entre armações de alumínio e carcaças
que sugerem a estrutura de pequenas aeronaves está uma verdadeira
fábrica. É uma fábrica de sonhos da maioria e da realidade de poucos,
instalada há 34 anos em um dos hangares do Aeroporto "Augusto de
Oliveira" (Salvação).
Azevedo, como é conhecido, sempre sonhou ser aviador. E foi muito além
disso. Ele é hoje um dos mais respeitados empresários que constrói
aeronaves experimentais do Brasil. Tal gabarito permitiu que desse à
Americana o prestígio de ser a cidade onde será construída uma réplica
do Demoiselle; avião que Santos=Dumont sobrevoou Paris em 1909. O
pedido veio de um advogado paulistano incumbido da mesma missão:
sobrevoar Paris, mas no ano de 2006, quando a França vai comemorar o
centenário da aviação.
"O
próprio Santos=Dumont fez 4 Demoiselles para conseguir estabilidade
e voar (19, 20, 21 e 22). Ainda assim, o modelo de número 19 quebrou a
asa e se fechou, provocando a queda do piloto", revelou. Mas, voltando
à réplica, Azevedo foi indicado por amigos do advogado paulistano, Ruy
Azevedo Sodré Sobrinho. "Ele conseguiu a exclusividade para fabricar o
Demoiselle e para sobrevoar Paris no ano do centenário", informou. "O
Ruy já tem até o prefixo da aeronave, que vai ser PU-RAS e deve estar
pronta dentro de um ano e meio", calculou.
Abrangência - Atualmente, a
equipe de Azevedo dá suporte e manutenção para a Associação Brasileira
de Aeronaves Experimentais (Abraex). Ele é o consultor técnico
responsável pela emissão do certificado de aeronavegabilidade. "Fazemos
manutenção, reconstrução e construção de aeronaves experimentais",
detalhou. Os clientes são os mais distintos possíveis: do Brasil
inteiro aos principais países da América do Sul.
O piloto, hoje aposentado, defende que a aviação é o meio de transporte
mais seguro do mundo. "O que não é seguro é o piloto, que é humano e
passível de erro. Principalmente de cálculo. Alguns batem no chão,
outros em árvore, poste e prédio ", ironiza. Azevedo considera o avião
uma máquina simples porque não tem câmbio.
Reivindicação da
autoria ainda motiva intermináveis discussões
Os americanos reivindicam a
autoria do invento do avião aos irmãos Wright. De acordo com a
cronologia estabelecida na edição de agosto da revista Super
Interessante, o precursor de tudo foi mesmo Alberto Santos=Dumont.
Segundo a revista, em outubro de 1901 o brasileiro fez o primeiro vôo
controlado com o Dirigível nº 6, dando a volta na Torre Eiffel e
retornando ao ponto inicial.
Dois
anos depois, ou melhor, em dezembro de 1903, Orville e Wilbur
Wright fazem o primeiro vôo controlado de um avião "com motor",
percorrendo 852 pés com o modelo Flyer. Mas para voar era preciso uma
catapulta para decolagem (engenho muito utilizado na guerra capaz de
lançar projéteis a grande altura e distância). O "motor" do Flyer tinha
apenas 11 CV de potência, insuficiente para a decolagem sem catapulta.
O
famoso 14 Bis, de Santos=Dumont (com 50 CV de potência), decolou em
outubro de 1906 como
primeiro vôo homologado da história. Sobre esta disputa entre Wright e
Dumont, o piloto Azevedo defende que "os americanos dizem que foram
eles mas a verdade é que ninguém sabe e ninguém viu", comentou. "Então,
fica valendo o 14 Bis, que foi documentado", opinou.
A
publicação informa que o Demoiselle surgiu em 1907, tendo sido considerado um dos mais seguros da época.
Modelo - No final de 1907, Santos=Dumont cria o seu
menor, mais versátil e prático aparelho aéreo, o "Demoiselle",
construído em apenas 15 dias. Uma treliça de bambu com juntas metálicas
constituía sua estrutura de 8 metros de comprimento. Contava com um
motor de dois cilindros opostos, com potência de 35 HP. O aparelho,
veloz e seguro, voou com facilidade: trouxe ao aviador grande
mobilidade para visitar amigos, participar de competições, pousar e
decolar em pequenos campos.
Em uma
de suas demonstrações no campo de Saint-Cyr, quando voava diante
de grande número de espectadores, desapareceu repentinamente, criando
suspense. O público ficou sem saber o que havia acontecido. Na verdade,
Santos=Dumont acabou distanciando-se movido pelo desejo de ganhar
velocidade, mas devido a uma pane no motor foi obrigado a pousar no
gramado do Castelo de Wideville. Esse vôo foi considerado o primeiro
reide (vôo completo, da decolagem ao pouso) da história da aviação ao
sobrevoar 18 quilômetros.
Santos=Dumont é o Pai
da Aviação e Marechal-do-Ar
Tendo dedicado sua vida à aviação, Santos=Dumont foi o primeiro
aeronauta a alcançar, definitivamente, a dirigibilidade dos balões e a
voar num aparelho mais pesado que o ar com propulsão própria.
Santos=Dumont era um rapaz provinciano, de estatura baixa e corpo
franzino quando chegou a Paris, em 1892, prestes a iniciar seus
estudos. Nove anos depois, transformou-se em modelo para os franceses,
ganhou diversos prêmios, ultrapassou barreiras e limites impostos aos
estrangeiros e construiu, na fantasia popular, a imagem de
"Super-Homem".
De
comportamento inquieto e espírito obstinado, nunca desistiu de
realizar seus projetos. Dos acidentes que sofreu, nenhum abalou sua
determinação em conquistar os ares, vontade essa que se consolidou com
o vôo do 14 Bis e a conquista da Taça Archdeacon. Influenciado por
vários precursores, Santos=Dumont também influenciou os construtores
que despontaram a partir de 1906, atraindo, ainda, a atenção do
Exército para as possíveis aplicações dos artefatos aéreos.
Com os
braços abertos ele segurava um lenço em cada uma das mãos os
quais soltou e foram disputados aos pedaços. Santos=Dumont não
patenteou sua invenção, deixando as pessoas livres para fabricá-lo,
tornando-se, assim, o primeiro avião popular. Além da França, outros
países como Estados Unidos, Alemanha e Holanda também construíram o
Demoiselle.
Fim - Embora tenha vivido numa época na qual
surgiram as primeiras indústrias aeronáuticas, nunca se interessou em
criar uma que Ihe pertencesse. Da mesma forma, a partir de uma opção
consciente e idealista, não patenteou seus inventos, colocando-os à
disposição de quem quisesse construí-los e utilizá-los. Seus anseios e
sonhos, seus hábitos e superstições formaram uma personalidade muito
singular, que acabou por conduzir o rumo da sua própria vida.
No ano
de 1910, Santos=Dumont encerrou sua carreira na aviação com o
"Demoiselle", abrindo espaço para outros aviadores e construtores. Já
afastado da atividade aérea, presenciou a Primeira Guerra Mundial e
decidiu retornar ao Brasil em 1915, onde passou os últimos anos de sua
vida. Alberto Santos=Dumont é considerado o Pai da Aviação e a Lei 3636
concedeu-lhe o posto honorífico de Marechal-do-Ar.
Fontes: http://www.fab.mil.br
e http://www.cabangu.com.br/pai_da_aviacao/
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