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Em 1903, apenas uma pessoa era capaz de
realizar vôos controlados. O brasileiro Alberto
Santos Dumont, voando o seu pequeno dirigível
N-9, realizava impressionantes demonstrações
públicas nos céus de Paris. Embora único no ar,
Alberto não estava só na dedicação ao vôo. Desde
fins do século 19 o vôo mecânico mostrava-se
promissor e vários inventores, engenheiros e
cientistas se debruçavam sobre o assunto
procurando entender como seria possível
construir um artefato capaz de se deslocar no ar
de forma controlada. Vários aparelhos já haviam
sido construídos e testados sem grande
sucesso.
Em 1898, quando Santos Dumont
iniciou sua carreira de aeronauta, foi criada,
na França, uma associação que agregava
inventores e incentivadores do vôo mecânico, o
Aeroclube da França, que desempenhou um papel
fundamental no desenvolvimento da aerostação e
da aeronáutica. Uma das primeiras preocupações
do aeroclube foi caracterizar, por critérios bem
definidos, o que poderia ser considerado vôo
controlado. Até então, os diversos relatos não
permitiam diferenciar um vôo ocasional,
realizado em circunstâncias especiais, de um vôo
realmente controlado. Na época, a única
evidência inquestionável da possibilidade de se
fazer um aparelho voador eficiente eram as
demonstrações de vôo planado realizadas pelo
engenheiro alemão Otto Lilienthal, entre 1890 e
1896. Lilienthal fez mais de mil vôos planados,
antes de morre num acidente.
Uma questão
crucial nos últimos anos do século 19 era saber
o que poderia ser considerado um vôo motorizado
controlado. Como iria lembrar, anos mais tarde,
o coronel francês Ferdinand Ferber, um dos
precursores da aviação, o vôo real foi
conseguido “passo a passo, salto a salto, vôo a
vôo”.
Alguns inventores anunciavam
sucesso em vôos curtos, sem convencer. Mesmo na
dirigibilidade de balões a questão se impunha.
Em 1852, por exemplo, o francês Henri Giffard
conseguira manobras com seus dirigíveis movidos
por um motor a vapor. Mas suas experiências
foram decepcionantes. Só conseguia algum
controle em condições muito singulares, sem
vento ou outras interferências. O mesmo ocorreu
em 1884, quando os militares franceses Charles
Renard e Arthur Krebs, com balão movido por um
motor elétrico, cobriram um circuito fechado.
Neste cenário o Aeroclube da França foi
inaugurado com uma pergunta: como saber se um
invento realizou um vôo
controlado? |
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COM O DIRIGÍVEL N-9, Santos
Dumont costumava fazer aparições atraindo
multidões. Aqui, ele aparece no campo de
corridas de Longchamps, no Bois de
Boulogne | Lilienthal havia experimentado um
pequeno motor em um de seus planadores, mas o
resultado decepcionou. O motor não atrapalhava,
mas também não melhorava o desempenho. É
interessante considerar que não havia, sequer, a
certeza de ser possível construir um aparelho
motorizado. Em 1894, por exemplo, na reunião da
British Association for the Advancement of
Science, um dos mais importantes pioneiros
americanos, Samuel Langley, apresentou seus
resultados, e houve um momento de
constrangimento. Lord Kelvin, físico de maior
prestígio da época, mostrou que as curvas
experimentais de Langley estavam erradas e
concluiu que seria impossível, com o
desenvolvimento contemporâneo, construir um
aeroplano motorizado: o peso do motor exigiria
asas enormes que produziriam um arrasto muito
grande, exigindo mais potência do motor, levando
a um raciocínio circular.
O aeroclube
adotou o critério da prova pública com a
presença de uma comissão idônea. Neste critério
estava a exigência de a demonstração ser
realizada em data previamente marcada, de forma
a se evitar que o acaso favorecesse o inventor.
Para a dirigibilidade de balões foi atribuído um
prêmio de 100 mil francos, patrocinado pelo
magnata do petróleo Deutsch de la Meurthe: seria
considerado um balão dirigível o aparelho que
realizasse um vôo saindo de Saint Cloud,
contornasse a Torre Eiffel e retornasse num
período de 30 minutos. O vôo deveria ser
anunciado com antecedência e uma comissão
designada pelo aeroclube estaria presente para
elaborar a ata. Admitia-se um vôo de distância
equivalente (11 km) realizado em outro local,
mas sujeito às mesmas condições. Segundo este
critério balões até então apresentados não eram
considerados dirigíveis.
Em 19 de outubro
de 1901 voando, no dirigível N-6, três anos após
ter iniciado seus experimentos aeronáuticos,
projetado, construído e voado dois balões
esféricos e seis dirigíveis, Santos Dumont
ganhou o prêmio Deutsch. Ele provou ser possível
dirigir um aparelho mais leve que o ar. Para
aumentar o desempenho de suas aeronaves Santos
Dumont introduziu inovações: foi o primeiro a
utilizar um motor a explosão com sucesso;
abandonou a tradicional rede que envolvia o
balão e usou cabos de aço diretamente ligados ao
invólucro; foi pioneiro no uso do lastro
líquido; desenvolveu a forma do invólucro. A
partir daí fez demonstrações cada vez mais
elaboradas, pois sabia ser fundamental despertar
o interesse da opinião pública, dos militares e
dos empresários em torno das inúmeras
possibilidades do novo invento. Em 1902 exibiu o
seu N-6 em Mônaco, voando sobre o mar e
afirmando que os dirigíveis seriam, em breve,
uma arma poderosa, pois com eles seria possível
atacar um outro invento revolucionário: o
submarino.
Santos Dumont imediatamente construiu
novos dirigíveis, cada um com uma finalidade
específica: o N-7, um dirigível de corrida; o
N-9, um pequeno dirigível para uma só pessoa; e
o N-10, um dirigível-ônibus para transportar
várias pessoas e servir de transporte coletivo.
O N-8, uma cópia do N-6, foi vendido “a uns
americanos”, mas não chegou a completar o seu
primeiro vôo. Com a sua flotilha Santos Dumont
tinha esperança de mostrar o potencial de seu
invento, mas a sorte não ajudou. O N-7 teve o
seu invólucro de seda criminosamente destruído e
o N-10 nunca foi totalmente concluído.
Concentrou-se no N-9. Com ele demonstrou que o
dirigível era seguro e prático: em 1903
transportou um menino de sete anos, realizou o
primeiro vôo noturno de um dirigível, deixou que
uma moça, a cubana Aída d’Acosta, pilotasse o
aparelho, foi à sua residência em Paris, passou
em revista as tropas francesas no dia nacional,
dando uma salva de tiros...
Em 7 de
setembro de 1903 Santos Dumont desembarcou no
Rio de Janeiro, como herói nacional. Sua breve
permanência no Brasil foi de intensa atividade.
Recebido pelo presidente e por seu ministério,
participou de concertos, esteve em São Paulo e
conheceu o dirigível Santa Cruz, construído pelo
abolicionista José do Patrocínio. Depois voltou
para Paris, onde era esperado com ansiedade e
continuou sua produção na aeronáutica, mas já
entusiasmado com aparelhos mais pesados que o
ar .
EM FOTO
INÉDITA, a cidade de Paris parou para ver
o dirigível N-6 avançar contra o vento forte,
impróprio para o vôo. Em 31 de outubro de 1901,
às 18h00, os canhões da Torre Eiffel anunciaram
que o brasileiro havia ganho o prêmio de 100 mil
francos | |
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EM 1909 O
DEMOISELLE de Santos Dumont fez diversos
vôos: desejo de estabelecer recordes crescentes
de velocidade, sempre acompanhado pela
multidão |
Os projetos de Santos Dumont de
números 11 e 12 são de um avião e de um
helicóptero, respectivamente. O primeiro, um
desenho influenciado pelos trabalhos de Sir
George Cayley que – desde o início do século 19
– construía pequenos planadores, pode não ter
saído do papel. O segundo projeto chegou a uma
fase avançada. Um helicóptero com duas hélices,
para produzir a força de sustentação e uma
terceira hélice para permitir o deslocamento
horizontal. Mas, sensível às críticas publicadas
na revista Aerophile, abandonou estes inventos,
retornando aos dirigíveis. Construiu mais dois
deles. O N-13, um grande dirigível com um balão
de hidrogênio acoplado a um de ar quente, foi
uma tentativa de se manter no ar por mais tempo.
Não chegou a testá-lo, mas sonhou viajar com ele
sobre a Europa. O N-14 nasceu como um racer,
voltado para competições. Com um enorme
invólucro, muito delgado, Santos Dumont esperava
atingir velocidades inéditas. Mas o aparelho
mostrou-se instável e ele trocou o invólucro,
mantendo os demais componentes. Realizou
experiências impressionantes em Trouville, na
França, em agosto de 1905.
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A JOVEM E
ATRAENTE CUBANA Aída d’Acosta,
freqüentadora da sociedade nova-iorquina pilota
o dirigível N-9 em 29 de junho de 1903, após
três lições de Santos Dumont: pioneira a
conduzir um dirigível aéreo
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Mas a
discussão que tomava conta do meio aeronáutico
era a do aeroplano. As notícias que chegavam dos
Estados Unidos davam conta de que Orville e
Wilbur Wright haviam realizado um breve vôo em
17 de dezembro de 1903 e, a partir de então,
estavam voando distâncias cada vez maiores,
provocando estranheza não só no meio dos
inventores franceses. Os dois irmãos anunciavam
vôos, mas não permitiam que testemunhas idôneas
acompanhassem as provas. Além disso, não
divulgaram sequer uma fotografia dos aparelhos.
A dúvida de que voavam com eficiência crescia.
Todos conheciam a contribuição deles para o vôo
planado. Haviam realizado estudos detalhados da
sustentação de asas. E, para evitar o estol que
vitimou Lilienthal, introduziram o que na época
era uma inovação: o leme horizontal colocado à
frente, em vez de posicionado na parte
posterior, como Cayley havia descoberto. Com
isso, o estol, a súbita perda de sustentação das
asas levando o aparelho a cair de bico, ficava
amortecido. |
Os irmãos Wright
anunciavam seus vôos mas não permitiam que
testemunhas idôneas acompanhassem as provas e
nem divulgavam fotografias de seus
equipamentos
Mas,
ainda assim, o planador tornava-se instável,
exigindo a permanente atuação do piloto para
manter o vôo. Para Orville e Wilbur este aspecto
não parecia essencial, pois, com a experiência
de construtores de bicicletas, sabiam que o
equilíbrio deveria ser mantido com o controle do
corpo. Mas se este raciocínio era válido para
bicicletas, introduzia um problema sério na
aviação ao criar aparelhos incapazes de realizar
um vôo estável. A parcial eliminação do estol
era, sem dúvida, tranqüilizadora e praticamente
todos os inventores passaram a adotar a
configuração dos Wright, posteriormente
denominada de canard.
Na França o
aeroclube discutia o que deveria ser considerado
um aparelho mais pesado que o ar. Cada vez mais
notícias de feitos surgiam. Eram sempre relatos
em que a única prova era o relato testemunhal,
como havia ocorrido com o vôo de 17 de dezembro
de 1903 dos Wright. A posição do aeroclube foi a
mesma adotada para o caso dos dirigíveis.
Decidiram estabelecer critérios rígidos que
permitissem diferenciar um vôo ocasional de um
vôo real. Estes parâmetros levaram à criação de
prêmios. Basicamente era exigido que o vôo
ocorresse em tempo calmo e que o aparelho
dispusesse de condições para levantar vôo. Não
era considerado um vôo completo o que dependesse
de elementos externos, como fortes ventos, ou
auxílio de um lançador. Além disso, o vôo
deveria ser anunciado com antecedência para que
fosse convocada uma comissão
julgadora.
Dois prêmios foram
instituídos. O prêmio Archdeacon beneficiaria
aqueles que, decolando por seus próprios meios,
cobrisse mais de 50 m. O grande prêmio do
aeroclube estava voltado para um vôo de mais de
100 m. Um terceiro prêmio, mais audacioso,
instituído por Archdeacon e Deutsch, seria dado
àquele que conseguisse realizar um vôo em
circuito fechado de um quilômetro. Os desafios
estavam postos. Dependia dos inventores
conseguirem marcas que, para a época, eram
desafios. Diante dos critérios, os Wrights não
tinham nenhuma possibilidade de êxito. Seus
aparelhos não eram capazes de decolar sem
auxílio de uma catapulta ou de intenso vento
frontal.
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EM UM
APARTAMENTO luxuoso na avenida Champs
Elysées, Santos Dumont desenvolveu projetos
aeronáuticos. Na manhã de 23 de junho de 1903
ele estacionou seu N-9 frente ao apartamento
atraindo multidão de curiosos
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Em
fins de 1905 a comunidade aeronáutica foi
surpreendida com a notícia divulgada pelos
irmãos Wright: de terem conseguido realizar um
vôo de 39 km. No aeroclube as opiniões
divergiam. Alguns aceitaram a versão. Outros
não. No início de 1906, as discussões atingiram
seu ponto mais alto e Archdeacon sintetizou sua
posição com um desafio: “Tomo a liberdade de
lembrar que existe na França um modesto prêmio
de 50 mil francos que tem o nome de ‘Prêmio
Deutsch-Archdeacon’ e será atribuído ao primeiro
experimentador que fizer voar um aeroplano em
circuito fechado, não 39 km, mas somente um. Não
os deixará fatigados fazer uma breve visita à
França para simplesmente ‘embolsar’ este pequeno
prêmio”. |
Os
irmãos Wright não só não ignoraram o desafio
como interromperam suas experiências por três
anos, numa atitude difícil de se compreender. A
menos que se lembre que os seus aviões dependiam
de meios externos para alçar vôo e, desta forma,
não seriam considerados concorrentes.
Santos Dumont, atento às discussões,
construiu um aparelho mais pesado que o ar. Para
testá-lo valeu-se do seu dirigível 14, acoplando
o seu novo invento ao balão. Com isso construiu
um rudimentar aparelho mais pesado que o ar. Com
este conjunto híbrido realizou algumas
experiências em Bagatelle e deu o nome de 14-Bis
à sua criação. Depois, testou o 14-Bis suspenso
a um longo cabo de aço e com isto garantiu a
estabilidade em torno do eixo longitudinal. Em
13 de setembro, já com o 14-Bis liberado de
qualquer elemento externo, foi para o campo de
provas. Esboçou um salto em setembro percorrendo
somente 7 m no ar. Ainda assim chamou a atenção
de seus colegas. A revista francesa La Nature
não lhe poupou elogios: “O dia 13 de setembro de
1906 será doravante histórico, pois, pela
primeira vez um homem elevou-se no ar por seus
próprios meios, Santos Dumont, sem abandonar
seus trabalhos nos ‘mais leves que o ar’, fez
também importantes estudos sobre o ‘o mais
pesado que o ar’ e foi ele quem conseguiu ‘voar’
neste dia memorável, diante de um público
numeroso... ele que se elevou no espaço, sem
balão, e esta é uma vitória importante para os
partidários do ‘mais pesado que o
ar’”.
Em 23 de outubro de 1906 Santos
Dumont ganhou o prêmio Archdeacon, ao voar 60
metros. A revista La Nature mais uma vez
noticiou: “É, portanto, a vitória completa do
‘mais pesado que o ar’; Santos Dumont demonstrou
de forma indiscutível que é possível se elevar
do solo por seus próprios meios e se manter no
ar”.
Em 12 de novembro, após várias
tentativas, Santos Dumont ganhou o prêmio
Aeroclube da França atingindo uma altura de 6
metros. Ganhou os dois primeiros prêmios da
história da aviação reconhecidos pela Fédération
Aéronautique International: distância, 220 m;
velocidade no ar, 41,292 km/h. A ata elaborada
na ocasião descreve o que as testemunhas
presenciaram: “A quarta tentativa foi feita no
sentido inverso das três anteriores. O aviador
saiu contra o vento. A partida deu-se às 4:45h,
com o dia já terminado. O aparelho, favorecido
pelo vento de proa e também por uma leve
inclinação, está quase que imediatamente em vôo.
Desfila apaixonadamente, surpreende os
espectadores mais distantes que não se
acomodaram a tempo.
Para evitar a
multidão, Santos Dumont aumenta a incidência e
ultrapassa seis metros de altura. Mas no mesmo
instante a velocidade diminui. Será que o
valente experimentador teve um instante de
hesitação? O aparelho parecia menos equilibrado
e esboça uma volta para a direita. Santos,
sempre admirável por seu sangue-frio e por sua
agilidade, corta o motor e volta ao solo. Mas a
asa direita toca o chão antes das rodas e sofre
pequenas avarias. Felizmente Santos está ileso e
é acolhido impetuosamente pela assistência
entusiasmada que o ovaciona freneticamente,
enquanto Jacques Fauré carrega em triunfo sobre
seus robustos ombros o herói desta admirável
proeza”.
Mas o 14-Bis é instável. Numa
impressionante atitude, o inventor brasileiro
mudou completamente sua concepção mental, e num
período de um ano criou o primeiro avião
eficiente: o Demoiselle. Saindo do 14-Bis, um
aparelho canard, logo construiu o seu N-15, um
aparelho com a configuração de Cayley. Mas o
trem de pouso era inadequado e o 15 não voou.
Santos Dumont concluiu que o avião era muito
pesado e em seu projeto 16 juntou asas a um
balão. Novamente não obteve sucesso e voltou-se
para o 15, achando que era necessário aumentar a
potência. O N-17, entretanto, não possuía uma
estrutura apropriada e não voou. Numa brusca
mudança, aceitou o desafio de construir uma
lancha capaz de atingir 100 km/h na água. Fez,
então, o N-18, uma lancha com um motor de 100 cv
atuando sobre uma grande hélice de três pás, e
com asa e leme submersos. Realizou experimentos,
presenciados por diversos inventores e percebeu
a função destes elementos para o vôo no ar. Não
ganhou a aposta, mas estava pronto para
construir um novo aparelho, o N-19, denominado
Demoiselle.
OS TRÊS
AMIGOS DO AR: Henri Farman, Santos Dumont
e Gabriel Voisin, num encontro em 1928 para
comemorar um vôo histórico de Farman, 20 anos
antes
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O
Demoiselle era um pequeno monoplano movido por
um motor de cilindros opostos, invenção dele,
construído em bambu e entelado em seda. O
primeiro monoplano auto-estável, voou algumas
vezes em novembro de 1907.
Outros
inventores já estavam conseguindo realizar vôos
significativos. Em 26 de outubro de 1907, voando
um modelo Voisin, Henri Farman bateu o segundo
recorde de velocidade e de distância, ao atingir
52,7 km/h, num vôo de 770 m em circuito
fechado.
Em 13 de janeiro de 1908, Farman
ganhou o prêmio Deutsch-Archdeacon ao realizar
um vôo de um quilômetro em circuito fechado.
Trata-se do terceiro recorde homologado da
história, ultrapassado pelo próprio Farman, em
28 de março do mesmo ano, quando atingiu a marca
de 2.004 m. A partir de então o interesse se
voltou para os vôos mais longos, de altitude e
para os recordes de velocidade. A decolagem
perdeu o
interesse. |
1909 foi um ano
fundamental na história da aviação. O que
parecia um esporte ganhava projeção
Em
1908, finalmente, os Wright divulgaram a
fotografia do vôo de 1903 e se apresentaram
publicamente. Seu novo modelo era um avião
canard biplano com um excelente desempenho para
a época. Com o seu modelo A, Wilbur bateu os
recordes de distância em circuito fechado. Em 21
de setembro de 1908 atingiu a marca de 66 km; em
18 de dezembro, 99,8 km e em 31 de dezembro, 124
km.
O ano de 1909 foi fundamental na
história da aviação. O que parecia um esporte
ganhava projeção mundial. As feiras e exposições
contribuíram para isso, mas foi a travessia do
Canal da Mancha, realizada por Blériot em 25 de
julho, que impressionou os militares. Santos
Dumont cumprimentou o amigo: “Esta transformação
da geografia é uma vitória da navegação aérea
sobre a navegação marítima. Um dia, talvez,
graças a você, o avião atravessará o Atlântico”.
Ao receber as congratulações, Blériot respondeu:
“Eu não fiz mais que segui-lo e imitá-lo. Seu
nome para os aviadores é uma bandeira. Você é o
nosso líder”.
Santos Dumont, voando o
seu novo Demoiselle, mostrou que o avião era um
meio de transporte seguro. Sua pequena aeronave
foi produzida por algumas indústrias e quando um
jornalista quis saber se ele não iria construir
aviões respondeu: “Se quer prestar-me um grande
favor, declare, pelo seu jornal, que, desejoso
de propagar a locomoção aérea, ponho à
disposição do público as patentes de invenção do
meu aeroplano. Todo mundo tem o direito de
construí-lo e, para isso, pode vir pedir-me os
planos. O aparelho não custa caro. Mesmo o
motor, não chega a 5 mil francos”.
Em
1910 anunciou seu desejo de abandonar o campo de
provas. Estava cansado e iria se dedicar à
divulgação do avião e mostrar as possibilidades
do seu invento. Durante toda a década de 1910 e
início da seguinte Santos Dumont defendeu a
importância da aviação para os militares e o
importante papel dela no estreitamento das
relações comerciais entre as nações. Seu nome
era respeitado e seu último invento, o
Demoiselle, foi copiado por outros inventores e
serviu de avião de treinamento para iniciantes
como Roland Garros. Santos Dumont nunca pensou
em iniciar uma indústria, oferecendo todos os
desenhos e detalhes de construção do seus
inventos. O plano do Demoiselle foi publicado
numa edição da Popular Mechanics de 1910, dando
os detalhes de construção e encorajando outros
inventores a produzirem o avião.
A
partir de meados da década de 1920, entretanto,
seu discurso muda gradualmente. Queixa-se da
saúde, de estar deprimido e melancólico e
rebela-se com as notícias do Brasil e do uso do
avião na guerra. Procura auxílio em asilos para
suportar seu estado que, segundo ele, não deseja
nem a um inimigo. Até culminar num suicídio, em
23 de julho de 1932.
Depois de ter
recebido todas as honrarias, alcançado a
categoria de Grande Oficial da Legião de Honra
em 1929, influenciado de forma fundamental a
aviação, ser o representante americano em
reuniões internacionais, esse mineiro, nascido a
20 de julho de 1873, em Palmira, Minas Gerais,
sucumbiu à depressão no Guarujá. Havia deixado
um inestimável legado a toda a
humanidade. |