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ram no aeroplano um collaborador na felicidade dos homens.
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Creio, deveria ser chamada "Época heroica da aeronautica" a que
comprehende os fins do seculo passado e os primeiros annos do actual. Nella
brilham os mais audaciosos arrojos dos inventores, que quasi se esqueciam
da vida, por muito se lembrarem de seu sonho.
Enchem-nos, hoje, do mais justo enthusiasmo os actos de bravura dos aviadores
do "front", como nos encherá de orgulho a noticia da travessia do
Atlantico, que prevejo proxima.
Essa coragem, porém, que os consagra como heroes, creio, não
é maior que as dos inventores, primeiros passaros humanos,
que, após heroica pertinacia em estudos de laboratorio, se arrojaram
a experimentar machinas frageis, primitivas, perigosas. Foram centenas
as victimas dessa audacia nobre, que luctaram com mil difficuldades, sempre
recebidos como "malucos", e que não conseguiram ver o triumpho dos
seus Sonhos, mas para cuja realização collaboraram com o
seu sacrificio, com a sua vida.
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Não fosse a audacia digna de todas as nossas homenagens, dos Capitaine
Ferber, Lilienthal, Pilcher, Barão de Bradsky, Augusto Severo, Sachet,
Charles, Morin, Delagrange, irmãos Nieuport, Chavez e tantos outros
- verdadeiros martyres da Sciencia - e hoje não assistiriamos, talvez,
a esse progresso maravilhoso da Aeronautica, conseguido, todo inteiro a
custa dessas vidas, de cujo sacrificio ficava sempre uma lição.
Penso, a maior parte dos meus leitores serão jovens nascidos depois
d'essa epoca, que já se vae tanto ensobreando na memoria; supplico-lhes,
pois, não se esquecerem d'estes nomes. A elles cabe, em grande parte,
o merito do que hoje se faz nos ares...
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* *
A principio tinha-se que luctar não só contra os elementos,
mas tambem contra os preconceitos a direcção dos balões
e, mais tarde o vôo mecanico eram problemas "insoluveis".
Eu tambem tive a honra de trabalhar um pouco, ao lado d'estes bravos,
porém
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o Todo Poderoso não quiz que o meu nome figurasse junto aos
d'elles. As primeiras lições que recebi de aeronautica foram-me
dadas pelo nosso grande visionario: Julio Verne. De 1888, mais ou menos,
a 1891, quando parti pela primeira vez para a Europa, li, com grande interesse,
todos os livros d'esse grande vidente da locomoção aerea
e submarina. Algumas vezes, no verdor dos meus annos, acreditei na possibilidade
de realisação do que contava o fertil e genial romancista;
momentos após, porém, despertava-se em mim, o espirito pratico,
que
via o peso absurdo do motor a vapor, o mais poderoso e leve que eu tinha
visto.
Naquelle tempo, só conhecia o existente em nossa fazenda, que era
de um aspecto e peso phantasticos; assim o eram tambem os tractores que
meu pae mandara vir da Inglaterra: puchavam duas carroças de café,
mas pesavam muitas toneladas... Senti um bafejo de esperança quando
meu pae me annunciou que ia construir um caminho de ferro para ligar a
Fazenda à Estação da Companhia Mogyana; pensei que
nessas locomotivas, que deviam ser pequenas, iria encontrar base para a
minha machina com que realisar as ficções de Julio Verne.
Tal não se deu: ellas eram de aspecto ainda