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mais pesado. Fiquei, então, certo de que Júlio Verne era
um grande romancista.
*
* *
Estava em Paris quando, na véspera de partir para o Brasil, fui,
com meu pai, visitar uma exposição de máquinas no
desaparecido "Palácio da Indústria". Qual não foi
o meu espanto quando vi, pela primeira vez, um motor à petróleo,
da força de um cavalo, muito compacto, e leve, em comparação
aos que eu conhecia, e... funcionando !
Parei diante dele como que pregado pelo destino. Estava completamente fascinado.
Meu pai, distraído, continuou a andar até que, depois de
alguns passos, dando pela minha falta, voltou, perguntou-me o que havia.
Contei-lhe a minha admiração de ver funcionar aquele motor,
e ele me respondeu: "por hoje basta".
Aproveitando-me dessas palavras, pedi-lhe licença para fazer meus
estudos em Paris. Continuamos o passeio, e meu pai, como distraído,
não me respondeu. Nessa mesma noite, no jantar de despedida, reunida
a família, entre nós, dois primos de meu pai, franceses e
seus antigos companheiros de escola, pediu-lhes ele que me protegessem,
pois pretendia
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fazer-me voltar a Paris para acabar meus estudos. Nessa mesma noite corri
vários livreiros; comprei todos os livros que encontrei sobre balões
e viagens aéreas.
*
* *
Diante do motor a petróleo, tinha sentido a possibilidade de tornar
reais as fantasias de Júlio Verne.
Ao motor a petróleo dei, mais tarde, todo inteiro, o meu êxito.
Tive a felicidade de ser o primeiro a emprega-lo nos ares.
Os meus antecessores nunca o usaram. Giffard adaptou o motor a vapor; Tissandier
levou consigo um motor elétrico. A experiência demonstrou,
mais tarde, que tinham seguido caminho errado.
*
* *
Uma manhã, em São Paulo, com grande surpresa minha, convidou-me
meu pai a ir à cidade e, dirigindo-se a um cartório de tabelião,
mandou lavrar escritura de minha emancipação. Tinha eu dezoito
anos. De volta à casa, chamou-me ao escritório e disse-me:
"Já lhe dei
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hoje a liberdade; aqui está mais este capital", e entregou-me títulos
no valor de muitas centenas de contos. "Tenho ainda alguns anos de vida;
quero ver como você se conduz: vai para Paris, o lugar mais perigoso
para um rapaz. Vamos ver se você se faz um homem; prefiro que não
se faça doutor; em Paris, com o auxílio de nossos primos,
você procurará um especialista em física, química,
mecânica, eletricidade, etc., estude essas matérias e não
se esqueça que o futuro do mundo está na mecânica.
Você não precisa pensar em ganhar a vida; eu lhe deixarei
o necessário para viver..."
*
* *
Chegado a Paris, e com o auxílio dos primos, fui procurar um professor.
Não poderia ter sido mais feliz; descobrimos o Sr. Garcia, respeitável
preceptor, de origem espanhola, que sabia tudo. Com ele estudei por muitos
anos.
Nos livros que comigo levara para o Brasil, li nomes de várias pessoas
que faziam ascensões em balão, por ocasião de festas
públicas. Eram as únicas que, então, se ocupavam da
aeronáutica.
Sem nada dizer ao meu professor, nem aos meus primos, procurei no Anuário
Bottin os nomes