Caráter

Em 1917, o "New York Journal" publicou o anúncio:

"SR. SANTOS=DUMONT: BOATO DE CASAMENTO
  O correspondente em Paris do New York Journal informou
  que o Sr. Santos=Duont ficou noivo da Srta. Powers, filha do
  Sr. James Powers, que reside em Paris há alguns anos."
Estilo

Jornal O DIA, 2 de Dezembro de 2001

MARCELO REMIGIO

Seis cidades dos estados do Rio, São Paulo e Minas Gerais se uniram para fazer com que a imagem de Alberto Santos=Dumont “decole”. Irritados com a depreciação do nome do Pai da Aviação ao longo dos anos, seis admiradores criaram um roteiro cultural integrado e acionaram os ministérios da Cultura e da Educação para exigir mudanças nos livros didáticos. A meta é garantir mais espaço ao ilustre. Na luta para mudar a imagem de Dumont, admiradores descobriram namoradas e explicações para ele não ter se casado.

A idéia de unir as cidades  (quatro já formam o roteiro cultural de visitas) em uma causa única partiu da Associação Cultural de Santos=Dumont, cidade natal de Alberto, em Minas Gerais. O projeto reúne Rio de Janeiro, Rio das Flores e Petrópolis, além de Santos Dumont/MG. Ano que vem, a proposta será lançar um “folder” com o roteiro integrado e incluir as cidades paulistas de Dumont e Guarujá. Cada secretaria de turismo se comprometerá em divulgar as atrações dos municípios.

Para os defensores do Pai da Aviação, hoje, ele só é lembrado por suas superstições e pela sua excentricidade. "Só aqui no Brasil que acontece isso. A coisa mais absurda é ferir a imagem de uma figura de extrema importância mundial com questões pessoais. Isso é preconceito", reclama o idealizador do projeto e vicepresidente da associação, o músico Robson Rodrigues Esteves, 36 anos. Além do vôo autônomo motorizado, Dumont idealizou, e popularizou o relógio de pulso, o chuveiro, a porta deslizante para hangar e a dirigibilidade dos balões.

Ele era o brasileiro mais conhecido no mundo antes de Pelé

Seja em Minas ou no Rio, o descontentamento quanto ao reconhecimento da obra de Santos=Dumont é grande. Para Marisa Guadalupe, diretora do Museu “A Encantada”, casa de veraneio de Alberto em Petrópolis, os brasileiros não se esqueceram de Dumont. Pelo contrário o problema é o modo como lembram: "Esquecido não é a palavra, e, sim, a não valorização. Os feitos e as conquistas ficaram em segundo plano. Sua cidadania, o orgulho de ser brasileiro, o nacionalismo que ele pregava estão se perdendo no tempo".

Marisa destaca o desprendimento de Dumont por bens. Ele deixava os inventos para a humanidade, sem patenteá-los, não visando o comércio. O secretário de turismo de Rio das Flores, Alexandre Machado, engrossa o coro: "A história dele é rica. Era o brasileiro mais conhecido no mundo antes de Pelé". Para ele, o resgate da vida de Dumont é questão de honra.

Moda avançada para época fez a fama de Dumont

A fama surgiu quando ele morava na França, no início do século passado. O motivo: era avançadinho para a época. Alberto ficou conhecido não só pelas invenções, mas também por viver lançando moda. Ele usava cabelo gomalizado repartido ao meio, visual nada discreto. Os sapatos também despertavam olhares duvidosos. Por ser baixo, 1,50 metro, Dumont recorria a calçados com saltos mais altos que os usuais.

Era também lá onde Dumont se envolvia em casos amorosos. Em 1901, o correspondente na Europa do jornal NewYork Journal enviou nota sobre o noiva do de Santos com Miss Powers, filha do empresário de sucesso James Powers. O texto está no Museu Aeroespacial, em Sulacap, Rio.

A lista de namoradas de Dumont não é pequena. Ele decorava sua casa de veraneio, em Petrópolis, com a foto de Luiza Villagran, uma admiradora chilena. O Pai da Aviação tinha fãs espalhadas pela América Latina. Outra que fez parte da lista foi a cubana Aída de Acosta. Ela ganhou o “status” de ser a única mulher a pilotar um dirigível feito por Dumont. "Somente uma ligação muito forte o levaria a deixar Aída pilotar o modelo Nove", afirma Robson Rodrigues Esteves. Apesar de cobiçado por latino-americanas e européias, ele não se casou.

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